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08 jan. 2025 | Fernanda Yamamoto – Médica-veterinária pela FMVZ/USP e Pós-graduação em Nutrologia de Cães e Gatos – IEP Ranvier

Entenda o correto manejo nutricional do cão filhote!

A fase de crescimento é um dos momentos mais desafiadores da vida, especialmente para cães de diferentes portes. Por isso, é muito importante atentar-se ao correto manejo nutricional do cão filhote. Confira!

Depois da lactação, a fase de filhote é a que mais demanda energia e nutrientes para o desenvolvimento do organismo. Por isso, é preciso ter algumas precauções, pois tanto a falta quanto o excesso de nutrientes são perigosos nessa fase.

Os cães são considerados filhotes após o período neonatal, que acontece desde o seu nascimento até a segunda semana de vida. Na sequência, o desmame deve ocorrer na quarta semana de vida do animal, período em que os dentes começam a crescer e a ingestão de alimentos sólidos se torna possível.

Nesta fase de desmame, o ideal é iniciar gradualmente a alimentação comercial (ração) destinada a filhotes, tanto para que se acostumem com a nova dieta quanto para que a mãe comece a produzir menos leite.

Além disso, durante 1 ou 2 semanas, é recomendável que o filhote consuma a dieta comercial específica para esta fase de vida, podendo-se utilizar água morna para amolecer a consistência dos alimentos secos. A partir daí, pode-se iniciar a alimentação totalmente sólida.

Até quando devo prescrever alimento de cão filhote?

Essa pergunta, quanto ao manejo nutricional do cão filhote, é bem frequente na rotina clínica e não há uma resposta única.

Tudo depende de quando o cão atingirá a maturidade sexual (puberdade), que, no caso dos animais, é considerada o marco da fase adulta, pois é quando eles passam a ter capacidade reprodutiva.

O tempo para cada indivíduo atingir a puberdade varia, mas está intimamente relacionado ao porte do animal:

  • Cães de porte pequeno geralmente entram na puberdade entre e 12 meses;
  • Cães de porte médio por volta dos 12 meses;
  • Cães de porte grande entre 15 e 18 meses;
  • Cães de porte gigante (acima de 45 kg de peso adulto) entre 18 e 24 meses.

Em resumo, o cão deve consumir ração destinada a filhotes até atingir a puberdade.

Durante o período de crescimento o objetivo é que o animal tenha um crescimento ótimo saudável ao invés de um crescimento máximo!

Com um crescimento máximo, ou seja, se acelerarmos o processo de desenvolvimento esquelético, aumentam-se os riscos de malformações osteoarticulares, sobrepeso e obesidade.

A atenção é ainda maior para cães de porte grande e gigante, pois eles possuem um crescimento mais acentuado. A nutrição nessa fase afeta diretamente o sistema imunológico, a composição corporal, a taxa de crescimento e o desenvolvimento esquelético.

Durante as primeiras semanas após desmame, os filhotes utilizam 50% da energia digerida para manutenção e os outros 50% para crescimento.

À medida que crescem, a necessidade energética diária (NED) diminui, e gradualmente o crescimento chega a um plateau, quando o cão atinge o porte de adulto.

E quanto aos nutrientes?

Os nutrientes mais frequentemente envolvidos em osteodistrofias, como raquitismo, hiperparatireoidismo secundário nutricional, osteoporose, displasia coxofemoral, entre outros, são o cálcio, fósforo, vitamina D e proteínas. Eles podem estar relacionados tanto à deficiência quanto ao excesso de ingestão.

Quando o animal é alimentado exclusivamente com uma dieta extrusada destinada a filhotes, é muito raro encontrar tais alterações, ao contrário do que ocorre quando o filhote é alimentado com dietas não convencionais e/ou é suplementado com vitaminas e minerais de forma inadequada. É preciso ter atenção com o excesso de petiscos ricos em nutrientes também!

Nutracêuticos que são muito estudados e recomendados como suplementos para filhotes são os ácidos graxos ômega-3:

  • Eicosapentaenóico (EPA);
  • Ocosahexaenóico (DHA).

O DHA é essencial e compreende a maior parte dos ácidos graxos do tecido cerebral, auxiliando na capacidade de aprendizado de animais jovens.

No mais, EPA e DHA estão presentes em grande quantidade na retina e no sistema nervoso central, aumentando a capacidade visual e a função cognitiva.

Como saber se o cão filhote está crescendo adequadamente?

É necessário acompanhamento do médico-veterinário para análise da curva de crescimento. Como os cães apresentam uma ampla variedade de tamanhos, existem 10 curvas separadas para cães machos e fêmeas, divididas em cinco categorias de tamanho, com base no peso adulto esperado.

Vale lembrar que a escala de 9 pontos do Escore de Condição Corporal (ECC) foi validada somente para animais adultos e não deve ser utilizada unicamente para acompanhamento do crescimento do filhote.

Recomenda-se a pesagem semanal do animal pelo tutor e a reavaliação da curva de crescimento e do ECC com o médico-veterinário, pelo menos a cada 2 semanas, para a reavaliação e possíveis ajustes na dieta.

O perfil do alimento para cães filhotes deve ser completo e balanceado, de forma a atender às necessidades nutricionais dessa fase. Por isso, é necessário:

  1. Uma alta densidade calórica, pois é um período de alta demanda energética, e portanto, é preciso um alimento com maior teor de gordura (10 a 25% na matéria seca).
  2. Um alimento com alto teor de proteínas (22% a 32% na matéria seca), com alta digestibilidade, para um melhor aproveitamento pelo organismo, pois é uma fase de intensa multiplicação celular para o desenvolvimento dos órgãos e dos sistemas.

Alguns exemplos de fontes proteicas de alta digestibilidade são:

  • Carnes mecanicamente separadas;
  • Vísceras de aves;
  • Glúten de milho 60;
  • Soja micronizada;
  • Farinha de salmão;
  • Plasma suíno;
  • Ovo desidratado em pó.

Tais ingredientes são declarados no rótulo, sendo possível identificar o grau de digestibilidade. No entanto, alimentos comerciais com alta energia (> 3,5 kcal/grama), geralmente costumam ser mais digestíveis.

Quando um cão filhote é alimentado com nutrientes de baixa caloria e digestibilidade, é necessária a ingestão de maiores quantidades, sobrecarregando o trato gastrointestinal e aumentando as chances de vômito, flatulência e diarreia.

Riscos da obesidade

Um ponto muito importante a ser discutido é o risco de obesidade hiperplásica durante esta fase, pois as consequências e os riscos para a saúde do animal são mais graves do que os da obesidade hipertrófica, que ocorre no animal adulto.

A obesidade hiperplásica é caracterizada pelo aumento do número e tamanho dos adipócitos e a hipertrófica é caracterizada pelo aumento no tamanho dos adipócitos já existentes no organismo adulto.

Como a fase de filhote é a fase de multiplicação celular, os adipócitos se multiplicam conforme é necessário para armazenar gordura. Quanto maior o número de adipócitos, maior será a capacidade do animal de acumular gordura na fase adulta. Consequentemente, o tratamento da obesidade se torna mais difícil, predispondo o animal a doenças osteoarticulares, alterações cardiorrespiratórias, piora na qualidade de vida e redução da longevidade.

A obesidade ocorre quando a ingestão de energia supera o gasto energético. Por isso o acompanhamento com o médico-veterinário é fundamental.

A fase de aprendizagem está muito relacionada com a oferta de petiscos como forma de recompensa, mas é preciso ter cautela na hora de oferecer. A energia vinda de petiscos não devem passar de 10% da NED, pois já que não são um alimento completo, podem receber menos ou mais nutrientes necessários, desbalanceado a dieta.

Por fim, em síntese, a fase de filhote é muito desafiadora e é responsabilidade do tutor garantir um crescimento saudável. E claro, o papel da nutrição e o acompanhamento com médico-veterinário são fundamentais para tal sucesso!