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07 mar. 2025 | Mariana Pamplona Perini - Zootecnista – FZEA/USP, com prática profissionalizante em Nutrologia de Cães e Gatos e mestrado em Nutrição e Nutrologia de Cães e Gatos – FMVZ/USP. Doutoranda em Nutrição e Nutrologia de Cães e Gatos na mesma instituição.

Comportamento felino: foco no bem-estar no atendimento clínico

Atualmente existem muitos protocolos que recomendam as práticas Cat Friendly a fim de reduzir o estresse do animal. Nesse post trazemos mais dessas práticas que promovem o bem-estar felino nos atendimentos clínicos. Confira!

A ocorrência de alterações comportamentais em animais de estimação, principalmente em gatos, tem forte implicação no bem-estar animal, tanto no ambiente doméstico quanto na clínica veterinária, influenciando no comportamento felino.

Assim, a agressão felina é considerada um problema comum para os tutores e esse estado reflete também nos atendimentos. Em consequência, esses comportamentos agressivos na clínica podem ser causados por manejo inadequado e experiências insuficientes ou ruins no período sensível do gato.

Hoje, existem muitos protocolos de recomendações em anestesia, manuseio e atendimento de gatos. Esses protocolos recomendam as práticas Cat Friendly a fim de reduzir o estresse do animal e possíveis agressões, o que favorece o exame clínico e físico.

Como reduzir o estresse de gatos em visitas à clínica veterinária?

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As visitas às clínicas veterinárias são consideradas um “evento” de elevado estresse para muitos gatos e seus tutores, principalmente devido aos problemas no manuseio e contenção na caixa de transporte.

Por isso, além dessa dificuldade, existem fatores estressores que colaboram com isso, tais como:

  • Viagem de carro até a clínica;
  • Exposição a ambiente desconhecido (GRIFFITH et al., 2000);
  • Manuseio intenso.

Dessa forma, os tutores podem evitar check-ups essenciais e vacinação para evitar angústia e estresse aos seus animais de companhia (VOLK et al., 2011).

Por outro lado, os médicos-veterinários podem apresentar dificuldade em manusear e prestar assistência a um animal estressado. (PALESTRINI, 2009). Ou seja, há também uma preocupação com a segurança, pois esses gatos podem redirecionar a agressão para qualquer pessoa envolvida no seu manuseio, incluindo o médico-veterinário e o tutor.

Quais as melhores práticas para lidar com comportamento felino?

No atendimento clínico, existem várias práticas e protocolos acessíveis a fim de reduzir o estresse e a agressão. Porém, existem gatos que, ainda assim, não permitem contato.

Nesses casos, recomenda-se o uso de sedativos a fim de evitar alterações severas nos exames (FAM et al., 2010) e no comportamento do gato.

O comportamento felino está cada vez mais em evidência na Medicina Veterinária e Zootecnia, justamente pela grande preocupação dos tutores em relação a diversos comportamentos alterados nos gatos.

Aliás, a maioria deles é reflexo do manejo inadequado ou falta de interações positivas tanto no meio doméstico quanto no meio clínico.

Hoje, já existem as práticas Cat Friendly, as quais auxiliam médicos veterinários e profissionais da área a manusear os gatos da maneira mais adequada possível, o que traz mais segurança ao profissional, ao tutor e ao animal.

Por isso, essas práticas têm o objetivo de reduzir o elevado estresse em momentos de contenção ou exames de rotina.

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Como a filosofia Cat Friendly começou e se disseminou?

As práticas Cat Friendly surgiram em 2006, com a campanha Prática Amigo do Gato (Cat Friendly Practice), estabelecida pela instituição de caridade International Cat Care.

A campanha despertou o interesse de clínicas veterinárias para reduzir o estresse e comportamentos agressivos dos gatos. Assim, criou-se o programa de certificação Cat Friendly Practice para clínicas e hospitais veterinários (SPARKES, 2013).

Entenda quais os principais cuidados você deve tomar

Alguns dos cuidados necessários para atender o gato de maneira adequada são:

  • Ter todos os equipamentos preparados para o atendimento, como agulhas, seringas e tesouras; 
  • Ter informações sobre a personalidade do gato (se é brincalhão ou medroso, por exemplo); 
  • Saber a idade, já que gatos seniores e geriátricos geralmente possuem doenças degenerativas nas articulações e precisam de uma superfície macia para se sentirem confortáveis; 
  • Cumprimentar o cliente e o gato em tom suave e baixo a fim de evitar ruídos elevados; 
  • Colocar músicas destinadas a gatos, como ‘Music for cats’ ou ‘Relax my cat’; 
  • Colocar a caixa de transporte sempre no elevado, fazendo os gatos se sentirem mais seguros;
  • Evitar o uso de superfícies geladas. A recomendação é de colocar uma manta com feromônios sintéticos ou até mesmo com catnip. Você também pode utilizar a manta do próprio cliente.

Outras práticas Cat Friendly para se atentar

As práticas Cat Friendly mais utilizadas nos atendimentos veterinários são:

  • A feromonioterapia; 
  • O “rolinho” de toalha em gatos ferais, medrosos e ansiosos;
  • Uso de toalhas durante o atendimento; 
  • Atitudes delicadas.

A seguir mostraremos algumas práticas que podem reduzir o estresse ou ansiedade em gatos durante o atendimento em clínicas.

O atendimento dos felinos no consultório veterinário

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O primeiro ponto a ser compreendido é que os atendimentos a felinos não devem ser rápidos, devendo ter um tempo mínimo de 10 minutos, podendo variar de 1 até 2 horas, dependendo do procedimento e estresse do animal.

Dessa forma, assim que o gato chegar ao consultório, coloque a caixa de transporte em um ambiente seguro – na mesa cirúrgica coberta por uma manta sem cheiro ou com feromônio sintético – e abra a caixa.

Se o gato se aventurar a sair, deixe-o explorar o ambiente enquanto você realiza a anamnese com o tutor. Caso contrário, abra a caixa discretamente e coloque uma toalha sobre o felino.

Após esse procedimento, ofereça um carinho ao gato e tente examiná-lo dentro da caixa.

Quando o felino dificulta o procedimento

Caso não seja possível, tente fazer o procedimento do rolinho, retire-o da caixa e realize o atendimento.

Caso necessite pesar o animal, coloque a manta na balança e pese-o. Se o mesmo tentar fugir, peça ao tutor para fazer carinho na face do animal e pese-o.

Assim, em procedimentos que provocam dor e desconforto, recomenda-se o oferecimento de alimento úmido ou petiscos para que o animal associe o momento a uma situação positiva e não desenvolva um trauma.

Caso você não consiga coletar sangue das patas, faça o procedimento do rolinho e colete da jugular.

Procedimentos a serem tomados com outras espécies

Quando a clínica atende outras espécies, é importante programar períodos ou dias da semana para a realização de exames clínicos somente em gatos. Além disso, tome alguns procedimentos bastante assertivos:

  • O exame deve ser conduzido no local em que o gato se sentir mais confortável;
  • Entre um atendimento e outro, a fim de evitar estresse por cheiros de feromônios de alerta, é recomendado limpar o local com sabão ou detergente em pó para remover a proteína e gordura, as quais compõem os feromônios, e a aplicação de feromônios sintéticos via difusor;
  • Tenha disponível brinquedos, toalhas, petiscos e estruturas físicas para exploração (RODAN et al., 2011).

Como médicos-veterinários devem proceder com as diferenças no comportamento felino

veterinaria-cuidando-tratando-de-gato-no-consultorio.jpg.webpAlém dessas práticas, é fundamental o médico veterinário ou profissional da área de felinos compreender os comportamentos e sinais dos gatos para promover um atendimento que vise o bem-estar.

Aliás, tais comportamentos estão associados a: 

  • Redução da ingestão de alimento e água; 
  • Defecação ou micção fora da caixa de areia; 
  • Micção e fezes com sangue; 
  • Perda de pelo; 
  • Queratose; 
  • Erupção cutânea; 
  • Apatia; 
  • Desorientação; 
  • Agressividade intensa; 
  • Vômito; 
  • Perda de peso. 

Além disso, podem estar relacionados a sintomatologias comuns em diversas afecções, como doença renal crônica (BARTGES, 2012), hipersensibilidade alimentar (MANDIGERS & GERMAN, 2010), enteropatia crônica (JERGENS et al., 1992), entre outras. 
É importante destacar que essas afecções podem resultar em alterações comportamentais severas, o que reduz a qualidade de vida e longevidade do animal. 
Para isso, recomenda-se, tanto em animais acometidos por alguma afecçãocomo em animais saudáveis, consultas com: 

  • Zootecnistas; 
  • Médicos veterinários; 
  • Biólogos comportamentalistas especializados em felinos, promovendo o bem-estar e melhor qualidade de vida ao animal. 

Esses especialistas também auxiliam no atendimento veterinário, oferecendo treinamentos Cat Friendly aos gatos e tutores.

Por que as práticas Cat Friendly e o conhecimento do comportamento felino são tão importantes?

A maioria dos animais que são levados ao médico veterinário possuem alterações clínicas e comportamentais, sendo fundamental ao profissional descobrir os sinais e sintomas dos mesmos. Assim, a observação do comportamento do felino no meio doméstico garante o melhor diagnóstico ao médico-veterinário.

De acordo com Pereira et al. (2014), o conhecimento de médicos-veterinários sobre o comportamento de gatos não difere do conhecimento dos tutores, o que mostra certa preocupação em relação a alterações comportamentais.

Em um outro estudo foi observado que a maioria dos gatos possui bem-estar prejudicado durante todas as etapas de uma visita à clínica: 

  • Na sala de espera; 
  • Sala de exames; 
  • Sobre a mesa de exames; 
  • E após chegar em casa.

Além disso, o estudo mostrou que 1 a cada 10 médicos veterinários examinaram o gato imediatamente, sem acariciá-lo, falar ou oferecer alimentos e brincadeiras (MARITI et al., 2016).

Conclusão

Portanto, pode-se dizer que a forma de atendimento influencia diretamente no sucesso dele.

Diante do exposto, é fundamental mais conhecimento sobre o comportamento e manuseio de gatos por parte dos médicos-veterinários e enfermeiros, a fim de garantir segurança, sucesso e bem-estar aos felinos e aos tutores.

Os profissionais também devem auxiliar os tutores a compreender e detectar os diferentes comportamentos de seus gatos como forma de auxiliar na redução da agressão e alterações comportamentais.